domingo, 22 de dezembro de 2013

POEMA DE QUEVEDO

CONVENIÊNCIAS DE NÃO USAR OS OLHOS, OS OUVIDOS E A LÍNGUA 

    Ouvir, ver e calar remédio era 
nesse tempo em que os olhos e o ouvido 
e a língua puderam ser sentido 
e não delito que ofender pudera. 
    Surdos, hoje, os remeiros com a cera, 
um mar navegarei que (encanecido 
de ossos, mas não de espumas) com bramido 
sepulta quem ouviu voz insincera. 
    Sem ser ouvido e sem ouvir, ociosos 
olhos e orelhas, serei olvidado 
pelo cenho dos homens poderosos. 
    Se é delito saber quem é culpado, 
o vício que o indaguem os curiosos 
e viva eu ignorante e ignorado. 

Francisco Quevedo, in 'Antologia Poética' 
Tradução de José Bento

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